Avançados, Para Anfitriões

Como o coronavírus impacta o aluguel de curta duração?

São inegáveis as profundas marcas que a pandemia do coronavírus está deixando na vida de todas as pessoas. A mais grave e trágica, sem dúvida nenhuma, é o desastre humano sentido mais fortemente por aqueles que já perderam entes e amigos queridos. Como esta crise afetará nossas vidas no âmbito da economia e das relações humanas, ainda deixa muita margem para especulação. Em meio a isso tudo, o que será do aluguel de curta duração?

Nosso objetivo não é fazer previsões para o futuro nem especular sobre os caminhos incertos que estão pela frente. Nosso mundo, tão influenciado pelas redes sociais, é inundado de opiniões e carente de fatos.

Assim sendo, apresentaremos alguns novos fatos relevantes ao aluguel de curta duração e apontaremos algumas das novas realidades que já estão emergindo por causa da crise do coronavírus.

O coronavírus e a indústria da viagem e turismo

Todos os segmentos da indústria da viagem e turismo foram duramente impactados desde fevereiro de 2020. O cenário é realmente devastador e sem precedentes por causa da amplitude e da escala da crise. Quais foram algumas das consequências até aqui?

Turismo Global

A OMT (Organização Mundial do Turismo) ainda não divulgou dados oficiais. Em um relatório atualizado em 24 de março , a OMT busca comparativos a partir da epidemia do SARS de 2003.

Naquela ocasião, o volume de chegadas de turistas na região da Ásia-Pacífico caiu em 44% e foram necessários cerca de 10 meses para o volume de viagens voltar aos níveis pré-crise. Estudos da OMT estimam quedas globais entre 20% e 30% nas receitas do turismo mundial em 2020.

Atualmente, em ação conjunta com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a OMT lançou a campanha #traveltomorrow “By Staying Home Today, We Can Travel Tomorrow” (tradução livre, “Ficando em Casa Hoje, Podemos Viajar Amanhã). O tema central da campanha é colocar a vida primeiro, com ênfase em postergar as viagens.

Diga-se de passagem, há um esforço coordenado que aparece entre todos os participantes do mercado em criar ações que evitem cancelamentos de viagens e eventos. O objetivo é criar mecanismos para as pessoas postergarem as viagens, em vez de desistirem delas.

Grandes Eventos

Apesar desse esforço, uma pesquisa rápida mostra que já são centenas de eventos de porte internacional cancelados ou suspensos. Pode-se citar grandes festivais culturais, como o South by Southwest nos EUA e o tradicional festival de Cannes; religiosos, como as celebrações da Semana Santa em Roma; inúmeras feiras e convenções e mega eventos esportivos como as Olimpíadas de Tóquio 2020.

Até mesmo grandes destinos turísticos como os parques da Disney estão fechados, com todas as atrações suspensas até que haja novas instruções por parte das autoridades de saúde.

Perceba que mesmo depois de 2 meses de crise, ainda é difícil de se encontrar números oficiais sobre o impacto financeiro real disso tudo. Ainda é um momento de muitas incertezas.

Transporte aéreo de passageiros

Segundo relatórios da IATA (sigla em inglês para Associação Internacional de Transporte Aéreo), um terço da frota global está parada neste momento. São mais de 2 milhões de vôos cancelados já até o fim de junho.

Em fevereiro, a quantidade de “quilômetros contratados” mundialmente no transporte aéreo de passageiros caiu 14,1% quando comparado com 2019, mesmo com o dia a mais do ano bissexto. Naquele mês, apenas os voos na região da Ásia-Pacífico haviam sido afetados. Os números de março ainda estão por vir.

Cenário da Hotelaria

Para contextualizar como a crise está afetando o faturamento para todo tipo de anfitrião, veja exemplos de taxas de ocupação e quedas do valor das diárias no setor hoteleiro pelo mundo. Esses dados são dos momentos de auge do isolamento social em cada região até o momento:

  • França: ocupação de 3,3%
  • Colômbia: ocupação de 3,9%
  • Índia: ocupação de 11%, queda de 20% no valor das diárias
  • Estados Unidos: ocupação de 21,6%, queda de 41,5% no valor das diárias
  • Londres: ocupação de 34,5%, queda de 10,4% no valor das diárias
  • Canadá: ocupação de 6,7% a 17,1% nas principais cidades, queda de 85,4% no faturamento por noite

No Brasil, a rede hoteleira está com 67% dos seus quartos fechados no momento, segundo levantamento da FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil).

Taxas de ocupação no Rio de Janeiro estão em cerca de 5% dos quartos, situação que pode ser extrapolada para todas os principais destinos do país. O cenário global do setor hoteleiro é bastante desalentador.

Como as agências de viagem online estão lidando com o coronavírus ?

Vejamos então como as grandes agências de viagem online (OTAs, sigla em inglês) estão agindo até agora. Quais oportunidades começam a aparecer para navegarmos por esta crise?

Vrbo (anteriormente HomeAway / AlugueTemporada)

As recomendações da Vrbo para proprietários e administradores tem sido em oferecer créditos de viagens para os hóspedes usarem em reservas futuras. Quando o hóspede não puder ou quiser receber créditos, a segunda recomendação tem sido em reembolsar pelo menos 50% do valor das reservas.

Em última análise, porém, esta é uma decisão do proprietário que pode reembolsar integralmente ou não reembolsar nada, de acordo com a política de cancelamento individual de cada acomodação.

Para todas as reservas canceladas que foram feitas antes do dia 13 de março, com pelo menos uma noite da estadia entre 13 de março e 30 de abril, a Vrbo também está:

  • Reembolsando automaticamente as taxas de serviço ao viajante cobradas pelo site;
  • Isentando proprietários e administradores das multas por cancelamento de reservas, assim retirando as penalidades que normalmente afetariam a classificação das acomodações na plataforma.

A plataforma apresenta todos os detalhes da Política de Emergência COVID-19 claramente no site principal e instruções específicas para proprietários dentro da página do proprietário.

Booking.com

A Booking.com não divulgou publicamente em seu site até o momento como a empresa está lidando com a crise do coronavírus. Desde a metade de março a empresa se restringe a divulgar a seguinte mensagem em seu feed do Twitter (tradução livre):

Para nossos clientes impactados pelas restrições a viagens relacionadas ao COVID-19, nós adicionamos opções de auto-atendimento. Por favor, entre em sua conta no Booking.com para ver quais opções estão disponíveis para você.

Ao entrar na conta, há uma mensagem para o hóspede pedindo para entrar em contato diretamente com a acomodação ou checar a central de ajuda para tratar de possíveis cancelamentos. Porém, não há instruções específicas quanto ao COVID-19 publicadas nos canais de ajuda.

Sinceramente, nos espanta este vácuo na comunicação por parte da Booking. Porém, a ressalva é que, em nossos negócios em Florianópolis, todas as reservas canceladas foram isentadas das taxas de serviço da plataforma.

Além disso, a plataforma acrescentou um botão de “reagendamento” de reservas na página de hóspedes para estimular a mudança de data da reserva em vez do cancelamento. Na página do proprietário foi acrescentado o mesmo botão, além de uma opção de “solicitar cancelamento” para facilitar os pedidos de cancelamentos iniciados pelo proprietário.

Grupo Expedia

Logo na página de entrada do portal há um banner que leva para o serviço de atendimento ao cliente. Ali há uma aba especial para o COVID-19. Nesta aba a plataforma descreve todas as instruções sobre cancelamentos de vôos, hotéis, pacotes de viagem, aluguel de carros, seguro de viagem e aluguel de temporada.

Neste segmento de aluguel de curta duração, o Expedia é proprietário da marca Vrbo. Portanto, trabalha de acordo com as políticas da Vrbo que explicamos anteriormente.

Note-se que o Grupo Expedia, sendo OTA com maior número de reservas no mundo, viu o valor de suas ações caírem de US$131 para US$59 com leve recuperação no momento da publicação deste post.

Airbnb

Por fim, vamos tratar do Airbnb, que é a OTA líder mundial em aluguel de curta duração.

A primeira reação da empresa foi atualizar a sua política de “Cancelamentos por Força Maior” para liberar cancelamentos relacionados ao coronavírus com 100% de reembolso para os hóspedes. Todas as reservas realizadas até 14 de março de 2020, com data de check-in entre 14 de março e 31 de maio de 2020, estão cobertas por esta politica.

Na prática, o Airbnb forçou todos os anfitriões a cancelar as reservas com 100% de reembolso aos hóspedes. Isso inclui até mesmo reservas cobertas por políticas rigorosas de cancelamento que originalmente não ofereceriam reembolsos.

Para reservas feitas após 14 de março, aplicam-se normalmente as regras de cancelamento selecionadas por cada anfitrião. Mesmo assim, o Airbnb opera em sua essência com um caráter de “comunidade” e não é incomum a plataforma escutar hóspedes e anfitriões para intermediar resoluções benéficas para ambas as partes. Esta prática é ainda mais relevante neste momento de crise mundial em que todas as rotinas fogem dos padrões normais.

Para auxiliar anfitriões do mundo todo que perderam renda de forma significativa por causa desses cancelamentos, no dia 30 de março o Airbnb anunciou a criação de um fundo de US$250 milhões custeado integralmente pela empresa. Ele é destinado ao pagamento de 25% do valor das reservas canceladas por causa do COVID-19. Os reembolsos:

  • Aplicam-se ao valor que seria retido pelo anfitrião de acordo com a Política de Cancelamento da acomodação em questão. Por exemplo, se havia uma reserva de R$400 que seria sem direito a reembolso, o Airbnb pagará R$100 ao anfitrião.
  • São apenas para reservas feitas até 14 de março, que foi a data que o Airbnb anunciou a atualização da Política de Cancelamentos por Força Maior.
  • Serão pagos a partir de abril incluindo todas as reservas canceladas com data de check-in entre 14 de março até 31 de maio (reservas de março serão pagas de forma retroativa).

Além disso, o Airbnb criou um fundo de ajuda a Superhosts com contribuições individuais e espontâneas de seus funcionários, fundadores e investidores no valor de US$17 milhões. Este fundo é destinado a anfitriões individuais que dependem da renda do Airbnb para viver.

O site criou um portal totalmente dedicado a atualizações sobre o coronavírus, com várias informações, dicas e novidades para sua comunidade de anfitriões e hóspedes. Sem sombra de dúvidas, o Airbnb se posiciona como a única grande OTA a realmente trabalhar em parceria com seus anfitriões e hóspedes.

Novas Oportunidades Emergindo

Existem duas tendências vertentes interessantes de se analisar.

Estadias locais de mais longa duração

A primeira é baseada em duas estatísticas importantes compartilhadas pelo Airbnb. No mundo inteiro as procuras mais do que duplicaram por estadias próximas do local de residência dos hóspedes, para 28 noites ou mais. Recentemente, as reservas de 4 a 6 semanas de duração aumentaram em 30% nos EUA.

Pensando nisso, o Airbnb alterou seu site para incluir uma aba de “Estadias longas” para reservas de 28 noites ou mais. Para isso, o anfitrião precisa definir um percentual de desconto nas diárias para esse tipo de estadia. No momento, menos de 50% dos anfitriões oferecem este desconto. Ou seja, há uma oportunidade para você sair na frente.

Além disso, o Airbnb verificou um aumento significativo de reservas para as acomodações que oferecem a política de cancelamento flexível. Normalmente não vemos diferenças em volume de reservas por causa da política de cancelamento. Por este motivo, costumávamos recomendar a política rigorosa, pois oferece mais segurança para o anfitrião. Porém, neste momento de crise, este fator tornou-se relevante para fechamentos.

Por isso, estadias mais longas com políticas de cancelamento mais flexíveis, em um momento em que o faturamento está bastante reduzido, aparece como uma oportunidade interessante. Afinal de contas, qual é o risco em se dar um desconto maior e correr maior risco de cancelamento em um período que o calendário estaria vazio?

Vantagem competitiva do aluguel de curta duração

A segunda oportunidade vertente está relacionada ao distanciamento social. Estamos todos sendo orientadas a não frequentar espaços com possibilidade de aglomeração de outras pessoas.

Assim sendo, há uma tendência natural em escolhermos hospedagens onde haja o mínimo de contato humano. Hotéis, pousadas, condomínios com maior circulação de pessoas estão sendo evitados.

O aluguel de espaços mais reservados, como casas ou até mesmo apartamentos em locais mais tranquilos, com poucos moradores, aparece como uma alternativa para quem precisa de hospedagem neste momento ou no futuro próximo.

Esta é a vantagem competitiva do aluguel de curta duração versus os hotéis e outras hospedagens profissionais neste momento. Precisaremos observar como este fator influenciará as reservas nas próximas semanas.

Sem bola de cristal…

Tentar adivinhar o futuro em meio a uma situação sem precedentes como esta crise causada pelo coronavírus, é um desperdício de energia.

Nas próximas semanas, focaremos em separar fatos de especulações, informações de opiniões, para guiar nossas ações com mais clareza, coragem e confiança. Documentaremos este aprendizado de forma bem completa.

Se você quiser manter uma comunicação mais imediata e frequente, recomendo que você entre em nosso canal no Telegram “Papo de Anfitrião”. Ali teremos uma conversa bem direta e franca, direto da mente de nosso Diretor Comercial, Marcos Schmidt. Venha conversar com a gente!

SITES E ARTIGOS DE REFERÊNCIA:

Airbnb: https://www.airbnb.com.br/resources/hosting-homes/t/coronavirus-updates-34

Diário do Turismo: Hotéis Rio: prejuízo superior a R$ 130 milhões no mês de abril para o setor hoteleiro https://diariodoturismo.com.br/hoteis-rio-prejuizo-superior-a-r-130-milhoes-no-mes-de-abril/Expedia: https://www.expedia.com.br/service/#/articles/1118/61

FOHB: Oferta de Disponibilidade Hoteleira http://fohb.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Oferta-de-Disponibilidade-Hoteleira-Semana-06-04-a-12-04.pdf

Forbes: Travel Biz Predictions For A Post COVID-19 World https://www.forbes.com/sites/jenniferleighparker/2020/03/31/travel-tech-predictions-for-a-post-covid-19-world/#4ebd6b6215fa

IATA: https://www.iata.org/

Phocuswright Special Series “COVID-19 Hotel Forecast: New York City – April 2020” https://www.hospitalitynet.org/file/152008816.pdf

UNWTO: https://www.unwto.org/tourism-covid-19

Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_events_affected_by_the_2019%E2%80%9320_coronavirus_pandemic

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